Decisão/Debate
Sobre Um texto de António Saraiva no Sol.
... calcanhar de Aquiles da maioria dos políticos portugueses está na dificuldade de decisão.
Em geral, os portugueses não gostam de decidir.
São um povo de meias-tintas.
Evitam fazer opções claras, cortar a direito, resolver as coisas de uma vez.
Não gostam de dizer ‘sim’ ou ‘não’ – refugiam-se muitas vezes no ‘nim’.
A grande superioridade de Cavaco Silva relativamente aos seus antecessores no cargo residiu exactamente numa boa capacidade de decisão.
Que lhe permitiu verdadeiramente fazer obra – coisa que nenhum 1.º-ministro tinha conseguido no pós-25 de Abril.
José Sócrates foi o chefe do Governo que se aproximou mais de Cavaco no que respeita a esta característica.
Isso, aliás, já se tinha notado aquando da sua passagem pelo Governo de Guterres, em que revelou gosto por resolver problemas e força interior para não ceder a pressões.
Numa palavra, revelou garra.
....
Uma coisa é certa: o socratismo está de certo modo esgotado.
Posta assim a questão, nem seria mau encontrar um ‘novo Sócrates’ de outra área.
Seria uma espécie de segundo fôlego do socratismo, com novos protagonistas.
Só que não acredito que Passos Coelho seja esse homem.
A minha suspeita funda-se no facto de estar sempre a dizer: ‘Criei uma comissão para estudar isto, criei outra comissão para estudar aquilo, é preciso um think tank para isto, outro para aquilo…’.
Ora, quando ouço este tipo de declarações, lembro-me sempre de uma frase de Salazar: «Quem quer fazer, faz; quem não quer, nomeia uma comissão».
O país não precisa de estar sempre a voltar ao princípio, de repetir estudos que já foram feitos e acabaram numa gaveta, de nomear novas comissões, novos grupos de trabalho: o país precisa de quem pegue nos problemas, veja com olhos de ver os erros que se cometeram – e seja capaz de cortar a direito.
...
Devo dizer que este blog é necessariamente apartidário. Já gostaria de ter pegado neste texto a semana passada mas deixei passar uma semana para fugir do calor do debate partidário.
António Saraiva é um jornalista de quem aprecio a exposição de suas ideias, concordando no maior caso com elas.
Neste caso também não posso discordar da co-relação que ela faz entre decisão e debate. Não regozijo mas concordo.
É pena que entre nós as coisas assim surjam, quem dialoga, quem escuta os outros não pode ser bom timoneiro porque não sabe ou não é capaz de decidir. Ouvir os outros, consultar é de alguma forma um sinónimo de fraqueza.
Como é evidente não é exclusivamente português. Mas lembro-me de durante a minha estada em Israel ter sido confrontado com outras culturas, nomeadamente a norte-americana, em que autoritarismo não é sinal de autoridade e o cumprimento de horários não é apanágio de qualquer sistema ditatorial.
É verdade que a nossa cultura vai evoluindo e a visão de outrora em muitos casos já está ultrapassada. Votar para decidir é frequente em pequenas coisas, em pequenos grupos. Mas a consulta de ideias em que aceitar uma sugestão de outrem e fazê-la cumprir ainda não é inteiramente aceite.
... calcanhar de Aquiles da maioria dos políticos portugueses está na dificuldade de decisão.
Em geral, os portugueses não gostam de decidir.
São um povo de meias-tintas.
Evitam fazer opções claras, cortar a direito, resolver as coisas de uma vez.
Não gostam de dizer ‘sim’ ou ‘não’ – refugiam-se muitas vezes no ‘nim’.
A grande superioridade de Cavaco Silva relativamente aos seus antecessores no cargo residiu exactamente numa boa capacidade de decisão.
Que lhe permitiu verdadeiramente fazer obra – coisa que nenhum 1.º-ministro tinha conseguido no pós-25 de Abril.
José Sócrates foi o chefe do Governo que se aproximou mais de Cavaco no que respeita a esta característica.
Isso, aliás, já se tinha notado aquando da sua passagem pelo Governo de Guterres, em que revelou gosto por resolver problemas e força interior para não ceder a pressões.
Numa palavra, revelou garra.
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Uma coisa é certa: o socratismo está de certo modo esgotado.
Posta assim a questão, nem seria mau encontrar um ‘novo Sócrates’ de outra área.
Seria uma espécie de segundo fôlego do socratismo, com novos protagonistas.
Só que não acredito que Passos Coelho seja esse homem.
A minha suspeita funda-se no facto de estar sempre a dizer: ‘Criei uma comissão para estudar isto, criei outra comissão para estudar aquilo, é preciso um think tank para isto, outro para aquilo…’.
Ora, quando ouço este tipo de declarações, lembro-me sempre de uma frase de Salazar: «Quem quer fazer, faz; quem não quer, nomeia uma comissão».
O país não precisa de estar sempre a voltar ao princípio, de repetir estudos que já foram feitos e acabaram numa gaveta, de nomear novas comissões, novos grupos de trabalho: o país precisa de quem pegue nos problemas, veja com olhos de ver os erros que se cometeram – e seja capaz de cortar a direito.
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Devo dizer que este blog é necessariamente apartidário. Já gostaria de ter pegado neste texto a semana passada mas deixei passar uma semana para fugir do calor do debate partidário.
António Saraiva é um jornalista de quem aprecio a exposição de suas ideias, concordando no maior caso com elas.
Neste caso também não posso discordar da co-relação que ela faz entre decisão e debate. Não regozijo mas concordo.
É pena que entre nós as coisas assim surjam, quem dialoga, quem escuta os outros não pode ser bom timoneiro porque não sabe ou não é capaz de decidir. Ouvir os outros, consultar é de alguma forma um sinónimo de fraqueza.
Como é evidente não é exclusivamente português. Mas lembro-me de durante a minha estada em Israel ter sido confrontado com outras culturas, nomeadamente a norte-americana, em que autoritarismo não é sinal de autoridade e o cumprimento de horários não é apanágio de qualquer sistema ditatorial.
É verdade que a nossa cultura vai evoluindo e a visão de outrora em muitos casos já está ultrapassada. Votar para decidir é frequente em pequenas coisas, em pequenos grupos. Mas a consulta de ideias em que aceitar uma sugestão de outrem e fazê-la cumprir ainda não é inteiramente aceite.
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