O Martírio do Imame Husayn (cont.)


No fatídico dia 10 de Muharram 61 DH (10 de Outubro 680 DC), Husayn deslocou-se ao campo dos homens a soldo de Yazíd e dirigiu-se-lhes com tal eloquência que alguns deles, como al-Hurr, passaram para o lado de Husayn, tendo sido dos primeiros a morrer na batalha sucedânea.

As fontes tradicionais indicam que entre os seguidores de Husayn havia setenta e dois homens armados, dezoito deles eram seus familiares, e um grupo de mulheres e crianças.

A desproporção de forças era enorme e os arqueiros dos Omíadas liquidaram o grupo de Husayn. No final apenas restava Husayn e o seu meio irmão Abbas, que foi morto quando procurava alcançar água para as mulheres e crianças. Assim, todo o exército inimigo convergiu para Husayn.

Levando o seu filho, nos braço Husayn suplicou água para o bebé, mas como resposta uma flecha lançada pelo inimigo trespassou a garganta de seu filho.

Já só restava Husayn, de entre os homens válidos para combate, e á medida que o exército o cercava, o Imame lutava de forma majestática, até que uma série de golpes o fizeram desfalecer e cair por terra, mesmo aí os soldados hesitaram em dar a estocada final no neto de Maomé. Segundo algumas fontes este infame acto foi executado por Shamir, um imediato de ‘Ubaydu’lláh.

O exército Omíada decapitou todos os corpos e colocou as cabeças na ponta das lanças, exibindo-as enquanto caminhava para Kufa. As mulheres e crianças forma levadas como prisioneiras, incluindo Ali, o único filho sobrevivente de Husayn, que estava demasiado enfermo para participar na batalha.

Em Kufa, ‘Ubaydu’lláh convocou uma assembleia e ordenou que lhe trouxessem a cabeça de Husayn numa bandeja, ao mesmo tempo que humilhava os prisioneiros diante de si. Quando a cabeça foi colocada à sua frente pegou numa cama e de forma jocosa brincou com os lábios da cabeça cadavérica.

Fontes xiitas referem que aquando do desenrolar deste vergonhoso episódio uma testemunha clamou: “retira a cana desses lábios, por Deus, quantas vezes não vi os lábios do Profeta de Deus nesses lábios”. [1]

Zaynab, a irmã de Husayn comportou-se de forma digníssima e respondeu altivamente a ‘Ubaydu’lláh quando pretendia matar ‘Ali: “Ó filho de Zíyad! Já derramaste o bastante do nosso sangue” e depois colocou Ali ao seu colo, rodeando-o com os seus braços e disse: “Por Deus, eu não o largo, se o quiseres matar, mata-me também.” A seguir ‘Ubaydu’lláh enviou os prisioneiros e a cabeça de Husayn para Damasco, capital da dinastia Omíada.

Aí, Yazíd troçou da cabeça de Husayn e insultou ‘Ali e Zaynab. No entanto, temendo um levantamento popular, poupou os cativos e permitiu o seu regresso a Medina.

Poderemos comparar a dinastia dos Omíadas como uma erva trepadeira, um cipó matador, que se apoderou de uma esplendorosa árvore, e que entende que a razão de existir dessa mesma árvore é a de lhe dar suporte e alimento, mesmo que possa conduzir à sua exaustão. Assim, um observador desatento verá esse cipó luxuriante e altivo, considerando-o como possuidor dos atributos que aprece transparecer, quando na realidade vai estrangulando a árvore que o suporta.

O contributo que o Islão trouxe ao mundo, mesmo que nessa época vergonhosa, deveu-se apesar dos Omíadas e nunca devido a estes, por mais aparentes que seja os seus feitos.

[1] Moojan Moomen, Introduction to Shi’i Islam página 31

A Imagem cooresponde ao Santuário de Husayn em Karbilá

Comentários

Moura disse…
Caro Moutinho,
pelo al cardoso cheguei ao blog Lusiadas, onde deixei comentário, e de lá cheguei aqui! Fantástico blog e links super interessantes, principalmente os que dizem respeito à História e em particular aos naufrágios!
Por acaso o dito João Moutinho não estudou na Faculdade de Letras, em Coimbra? Tive um colega das Histórias com esse nome...
Um abraço
João Moutinho disse…
Agradeço a sua vista e vou linkar o seu blog.
Eu estudei em Vila Real Eng.ª Agrícola. Mas nem por isso deixo de ser uma apixonado pela História Universal.
ManuelNeves disse…
Viva!
quero começar por lhe agradecer a visita que fez ao PopulusRomanus. Com o meu post:"Arreganha a Taxa, Paga o Imposto!", não quis de forma alguma colocar em causa o profissionalismo dos funcionários do Hospital, apenas, de uma forma descontraída colocar as pessoas a pensar como tudo se processa no nosso sistema de saúde, e como de repente entrámos no caminho da tecnologia, e como o futebol é tão importante na vida das pessoas, e como perto de 50% dos nossos jovens não concluem o enino secundário, e... gostei muito dos seus blog's. Voltarei.
Um Abraço

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